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Homem que come gente

O Abaporu está de volta ao Brasil em curta temporada no MAR (Museu de Arte do Rio). O quadro de Tarsila do Amaral está em exposição juntamente com os quadros de Botero e Di Cavalcanti. 

Abaporu é um quadro famoso, estudamos ele e a cultura antropofagista dos modernistas no ensino médio. É datado de 1928 e foi um dos emblemas do Modernismo. Em tupi Aba (homem); pora (gente); ú (come), então "homem que come gente". Os modernistas tinham como lema valorizar tudo que era nosso e "comer" a cultura estrangeira (até hoje, penso que Lima Barreto seria muito aplaudido na Semana de 22). Bela proposta, mas acho que muitas delas caíram por terra, a meu ver. Já tem tempo que valorizamos tudo que é de fora. Claro, os turistas são bem vindos e temos que estar abertos ao intercâmbio cultural. Porém,  o brasileiro tem uma visão de desvalorização já arraigada. Se ouvimos dizer que fulano estudou fora é um: "Oh! que maravilha!", se ouvimos que beltrano foi pra fora do Brasil morar é um "Ah! que coisa boa!" Se vem um estrangeiro pra cá logo arregalamos um olho e dizemos ele/ela veio de não sei que lugar e quase estendemos o tapete vermelho... Gente, quando nós vamos lá pra fora somos estrangeiros e tratados como tal, muitos brasileiros passam perrengue lá fora, conheço muitos casos de pessoas que se arrependem de ter deixado sua pátria e tentarem a sorte em outro lugar. Muitos sentem saudades e muitos até deprimem por verem a maior parte dos dias cinzas e frios... Mas deixa esse assunto que rende, para falar na verdade de outro que me proponho aqui.

Abaporu é "homem que come gente", sua figura é disforme: cabeça pequena, pés grandes. Eu humildemente analiso como a grande pintura da atualidade, por isso, ser um clássico. Hoje existe homens que comem homens. O mercado de trabalho está aí, é gente engolindo gente. As relações humanas são de pessoas que comem pessoas agindo de acordo com seus próprios interesses. Dentro das próprias famílias existem disputas por heranças e parentes engolindo parentes. Hoje há uma competição desenfreada para conseguir seu lugar ao sol. Ninguém é de ninguém, só são de seus interesses. Os valores foram pras cucuias e o pé enorme disforme, é o pé que pisa com toda a sua força no outro independente de sentimentos, valores e ações. A empatia no ser humano é coisa bem sutil, quase desaparecendo... se você me fere vou te ferir também. Estamos na era "olho por olho, dente por dente". Estamos tão carentes de valores nobres que quando acontece algo que deveria ser corriqueiro é até matéria de jornal... A cabeça pequena do homem na pintura da Tarsila, mostra, a meu ver, que tudo que é consciência e razão se perde quando seus interesses são contrariados. Contudo, tem também algo relevante ali: ele está nu. O homem está nu de tudo, de seu caráter, de sua moral, de suas roupas (material), está no chão. Indicando que aquele que faz e desfaz do outro a qualquer custo, pelos seus interesses escusos está na verdade sem nada, quer tudo, mas não possui nada, é como diz Maria Bethânia, "o oco do oco do fim do mundo"...

O Abaporu estará em exposição até janeiro de 2017. Depois ele retorna para Buenos Aires. Eu já tive a oportunidade de vê-lo em outra exposição no CCBBRJ, mas certamente, o verei novamente. É sempre bom estar perto de algo que nos causa reflexão. 

Vale a pena conferir uma das obras mais relevantes do Modernismo. Viva Tarsila do Amaral! 

Obs: Não colocarei a imagem do Abaporu por conta de direitos autorais, mas colocarei uma pintura que retrata o canibalismo.

(Preparo do banquete ritual - Theodore de Bry - 1562)

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