Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2011

Estrada do Sol

Hoje foi a última conferência dedicada ao teatro brasileiro organizada pela Academia Brasileira de Letras. O tema foi musical e para falar sobre eles foi chamado o jornalista e diretor Flavio Marinho. Para dar suporte sonoro, a atriz Soraya Ravenle e o cantor e compositor Zé Renato. Flavio Marinho fez a trajetória dos musicais brasileiros pontuando-os por décadas e a cada obra referida abria-se espaço para determinada música ora cantada por Soraya Ravenle, ora por Zé Renato. Algumas peças teatrais foram comentadas com uma carga emocional grande assim como a performance dos cantores. o teatro de Revista foi lembrado, o teatro de Arena, as vedetes, os musicais Orfeu da Conceição , Pobre menina rica, Orlando Silva , Dolores Duran , O Santo Inquérito , Gota d’água , A ópera do malandro, entre outros... Fui às lágrimas, obviamente. Esta semana e provavelmente a outra serão carregadas de emoção para mim. Estou na minha atmosfera, na atmosfera do ar. Sentidos estão aguçados e propen

Pés ruços

Pés ruços , foi um conto que escrevi em 2006. Há dois dias, através de uma conversa sobre pseudo-burgueses, relembrei desse conto e resolvi compartilhar com vocês, eis: PÉS RUÇOS (Luzia Rocha- 14/07/2006) Ela observava uma mulher de cabelos nem tão brancos nem tão pretos sentada no banco laranja de fórmica, de pés ruços, saia de tergal até os joelhos, abraçada à bolsa como a um filho. Olhos inertes, boca flácida num semblante calmo e sereno. Era domingo. O sol à pino e o frenesi das pessoas, ansiosas pelo encontro com o mar, faziam com que aquela figura se destacasse. O vagão sacolejava, os sons dos trilhos cortavam a escuridão e junto, a imagem da bolsa de lona, refletida na janela, rota, próxima ao peito da mulher de pés ruços. Os futuros banhistas, num falatório contínuo, anunciavam que ali havia apenas duas pontas que se cruzavam: a da jovem que a observava e a da mulher de pés ruços. A jovem tentava não fixar o olhar para que sua mente apagasse aquela imag

A metáfora das metáforas

Era uma vez um jovem líder de um povo ribeirinho que tinha como objetivo conquistar o castelo da jovem rainha déspota. E para isso não media esforços. Carismático por si só, convencia o seu povo de que a melhor maneira de conservar a tradição oral, suas lendas e costumes era travar uma batalha, mesmo que longa, contra a jovem rainha. E o povo confiante no jovem líder, acatava. O jovem líder além de carismático tinha um ótimo senso prático, disciplina, inteligência, e... determinação. Sabia ler, escrever com desenvoltura. Além de seu dialeto, sabia falar outra língua, era viajado, tinha uma boa estatura (estatura de viking). Sabia lutar, uma luta parecida com a capoeira. O jovem líder havia se preparado anos para o confronto com a jovem déspota. A jovem rainha déspota vivia em seu castelo desde o nascimento. Era inteligente, boa oradora, escrevia muito bem, tinha um poder de persuasão, assim como o jovem líder. Em seu castelo, vivia cercada por poetas, filósofos, historiadores, m

Cativar

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” . É frase mais presente atualmente em meu caminho. Quem não quer ser cativado? O que é cativar? Cativar é “criar laços”, segundo a raposa mais sábia da literatura universal.  E os laços são estabelecidos como? De que maneira? É necessário estabelecer laços? Hoje é permitido cultivar laços? Essas perguntas vão se somando à medida que você vai vivendo. No livro O Pequeno Príncipe , existe um capítulo, onde há um diálogo entre o jovem e a raposa e é um dos mais bonitos e significativos para mim. A raposa, segundo crenças africanas, é sempre justa e sempre pecadora. É um ser independente, satisfeito com a existência, ativo, inventivo, mas ao mesmo tempo destruidor, audacioso e temeroso, inquieto, desenvolto, enfim, a raposa representa as contradições da natureza humana. Mas o que isso tem relacionado com o cativar? A raposa com toda a sua simbologia dúbia ensina ao jovem príncipe uma das coisas mais belas e im

Poesia 2

Estou um pouco sem inspiração esta semana. Na verdade, tenho muitas mas ordenar as ideias é que ainda não consegui. Talvez seja por conta de um resfriado que se abate sobre mim e a minha incômoda sinusite. Então mais uma vez recorro a escrita de Lya Luft. Terminei de reler o livro. E dois poemas gostaria de compartilhar com vocês. São os últimos que posto. Quem puder e quiser, compre o livro que vale muito. Um dos poemas é em homenagem às mães, o outro é belo por si só e dispensa comentários... DEMASIA ( para as mães excessivas - Lya Luft) Os filhos que pari trilharam seus caminhos (como dizem que deve ser) Eu não me conformei: andei em seus calcanhares, lancei-me em mil direções, fiquei perdida nesta casa vazia. Toda a noite espreito os velhos quartos para ver se as memórias dormem direito, se escovaram os dentes, fizeram as lições. Meus filhos tiveram outros, e eu me fragmentei ainda mais. No espelho não vejo ninguém: virei poeira de gente, soprada entre eles.