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Mostrando postagens de junho, 2011

Dona Isaltina

Escrever sobre Dona Isaltina é relembrar minha infância. Dona Isaltina era uma quituteira de mão cheia. Tudo o que fazia era de uma qualidade incrível. Sua imagem ainda hoje é nítida para mim. Sem precisar fechar os olhos a vejo adentrando o quintal dos meus avós, estatura baixa, saia até os joelhos, um lenço na cabeça branquinho tal como seus cabelos. Apoiada em sua cintura, uma bacia de alumínio, muito bem areada por sinal, e dentro: pastéis de massa caseira, bolinhos de aipim (com recheio de carne moída e seca), quibes e bolos. Seus salgados eram robustos, cheirosos, bem feitos, deliciosos. Um manjar dos deuses.   Dona Isaltina era o elo da presença de meu avô. Como meu avô morava em outro estado à trabalho, o período em que se encontrava aqui no Rio, era o momento do aparecimento de Dona Isaltina, porque a venda total de seus quitutes era garantida. E era uma festa, tanto para a quituteira como para nós, as crianças. A comida de fato é um elemento agregador. Comer os salga

Tempo

Era uma vez o mais jovem dos Titãs, Cronos, filho de Urano. Cronos devorava os filhos logo que nasciam. Isso fez com que Réia, sua esposa e irmã, fugisse para Creta a fim de dar à luz Zeus. Já adulto, Zeus, deu a Cronos uma droga fazendo-o vomitar todos os filhos que engolira outrora. Com o auxílio dos irmãos, Zeus, acorrentou Cronos, mutilou-o dando início à segunda geração dos deuses. Cronos personifica o Tempo (Chronos). Tempo, senhor cruel, imperdoável, devora, engendra, destrói suas criações, estanca as fontes da vida, exprime um sentimento de duração que se esgota, extravasa e passa entre a excitação e a satisfação, teme um substituto, um herdeiro. O Tempo teme, e para não temer, ataca e dá fim ao que o ameaça.   Quantas vezes já ouvi e mencionei a palavra tempo. Tudo se desenvolve em meio ao Tempo. “Vamos dar um tempo”; “estou sem tempo”; “não tenho tempo”; “acabou-se o tempo”; “fulano não tem muito tempo de vida”; frases ouvidas com certa frequência. Elas nos dão um fa

12

O 12 é o número das divisões espaço temporais. É o produto dos quatro pontos cardeais pelos três planos do mundo. Divide o céu considerado como uma cúpula em 11 setores: os 12 signos do Zodíaco. Ele simboliza o universo no seu curso cíclico espaço-temporal. Número da ação, da vibração sonora que preside a gênese. E simboliza o universo com toda a sua complexidade interna. Doze é sempre e definitivamente, segundo os simbolistas, o número de uma realização, de um ciclo concluído. Particularmente, simpatizo muito com o doze (principalmente o 12 de junho). Dia 12 de junho é o Dia dos Namorados então para todos aqueles que estão enamorados ou que querem enamorar-se reescrevo um trecho do livro Amor, de Maria de Lourdes Borges, para a reflexão: “O amor, na sua forma avassaladora, dissolve tudo o que é fixo. Olhar o outro nos olhos e temer o senhor absoluto nos dá a dimensão mortal de Eros.” Deixo também a poesia de Luis de Camões e a imagem da escultura de Constantin Brancusi

Tarde em São Clemente

Em virtude de atribulações semanais que possivelmente me impedirão de escrever algo inédito, postarei um texto que escrevi em 2007. Uma boa semana a todos!  Tarde em São Clemente (04/06/2007) Foi assim que eu o conheci: sentada naquele banco olhando a copa das árvores. Era uma tarde amena de primavera em que o sol colore as flores dando a certeza de que foram feitas para serem contempladas. Era mais um dia como outro qualquer cheio de inquietações, quando na calçada, ao preparar-me para fazer sinal para o ônibus, a imponência de dois leões ladeando a entrada de um casarão, fez o meu dedo em riste recuar. Dois leões cinzas, imóveis, petrificados, a espreitar o menor sinal de vacilo.  O sinal fecha, resolvi atravessar. Encontrei o portão aberto como se já esperasse a minha visita.    Escada negra, tapete carmim e o piso de madeira revelavam um corredor longilíneo. Com o caminhar calmo e as crescentes expectativas, comecei meu trajeto.  O banheiro com o encanamento