Escrevo fortemente emocionada com a abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Chorei muito!
Nós reclamamos diariamente por tantas coisas banais, temos a síndrome do "aí coitadinho de mim", desistimos facilmente depois de tantas quedas e baques na vida, mas eles estão lá superando. Superam tudo: limitações físicas, limitações de dor, limitações que o preconceito insiste em provocar, limitações de locais para treinar, limitações de patrocínio, limitações das mais variadas ordens... mas estão lá! Entrando no Maraca sorrindo, balançando suas bandeiras, carregando a alegria de representar seu país! Representando os refugiados da Síria, representando a fome da Somália, representando a guerra em Moçambique, representando as dores de toda uma nação, porém, no momento que adentram o grande estádio isso tudo vem junto em seus corações e uma explosão de sorrisos superam todas as tristezas. Agora sou um ser em totalidade! Sou um atleta! Vou competir, sou capaz! Mostram as fotos de seus filhos, beijam alianças, dizem eu te amo, dão gritinhos, sambam no pé, pulam de alegria... são humanos, mesmo com suas próteses de última geração e cadeiras de rodas cibernéticas (umas são elétricas outras não), todos juntos, integrados! Mostram orgulhosos seus trajes típicos (os turbantes das atletas da Nigéria e o chapéu de Laos estavam lindos) e incorporam a filosofia do "Eu sou" e são. São super-heróis e super seres!
Parabenizo aos organizadores do evento, alguns eu conheço, Marcelo Rubens Paiva e Vik Muniz, mas todos foram de uma sensibilidade incrível. A representação da sensação do cego do contraste luz e sombra, as bengalas luminosas; o grande coração vindo de um quebra-cabeça, pulsando e de seu sangue produzindo um lindo painel de cores, foi belíssimo... O momento do samba no pé entre humana e máquina... contudo o que me comoveu de verdade foi o balé dos cegos ao som de Heitor Villa-Lobos; os pais com seus filhos carregando juntos a bandeira olímpica e o momento da tocha olímpica. Ver a força daquela atleta sênior caindo e se levantando mesmo com toda a sua dificuldade ultrapassando as suas limitações para entregar a chama olímpica a outra atleta me levou à rios de lágrimas... eles são mesmo super-heróis.
Vê-los me fez refletir sobre as nossas deficiências. O quanto nós, ditos "sadios", somos deficientes com outras questões. Somos deficientes em ações; em caráter; em perseverança; em espiritualidade; em noções de bem viver; deficientes em respeito ao próximo; deficientes em receber e dar amor; deficientes em empatia; deficientes em moral; deficientes em observar o outro; deficientes em respeitar a natureza; deficientes em educação; deficientes na forma como olhamos nosso corpo... nossa, tantas deficiências... Eles não são deficientes, mas sim eficientes... Eles são muito melhores que eu.
Ah, e pra coroar, o bom gosto em colocar a delegação brasileira entrando ao som de Gonzaguinha e fechar com o mesmo, foi bola dentro!
Não sei se conseguirei ainda um ingresso para assistir a alguma competição, mas vou acompanhar certamente cada momento pela TV. O que eu aprendi com essa "rapaziada"?! É que eu tenho que "seguir em frente e segurar o rojão".
Eu acredito nessa rapaziada! Vamos lá Brasil! "E vamos à luta"!
Em homenagem a vocês, atletas paralímpicos, segue o som do grande Gonzaguinha:
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