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Predador

Quando vi já estava consumado. Um gavião havia abatido um pardal e estava no galho do meu cajá a depenar cuidadosamente a presa.

O gavião era lindo, imponente, suas garras eram gigantescas, suas penas de cor marrom lustrosas, seu bico adunco ofereciam a imagem perfeita do Predador. Ao me deparar com a cena tive um pouco de medo, mas a atração e beleza do momento me capturavam. Aquilo era a verdadeira execução da cadeia alimentar: predador e presa, juntos ali aos meus olhos.

Pensei que os predadores fossem logo comendo a sua presa depois de abatidas, não. Eles a preparam primeiro. Pelo menos o gavião foi depenando meticulosamente o peito do pardal, para depois dar a bicada inaugural. Ao perceber que estava sendo observado, foi embora, devorar seu banquete num lugar mais privado.

Em quais momentos somos presa ou predador? Quando abatemos e somos abatidos será que nos expomos? Comeremos ou seremos comidos em locais privados, longe dos olhos inquisidores? Há de se pensar...

 * * *

O carnaval se aproxima. Em todo o país há uma contagem regressiva. Para quem gosta é o momento de confeccionar a fantasia que melhor lhe cabe para brincar a festa do Momo. Para aqueles que não gostam, cabe o recolhimento.

Confeccionar fantasias acho um barato. Sempre curti isso. Quando pequena ficava olhando minha mãe fazer as minhas. Era baianinha, pareô, melindrosa, sarongue... Quando chegava o dia da estreia, que felicidade.

Há quem prefira além da fantasia usar máscaras. Outros usam só máscaras. Máscaras são um bom adorno para brincar o carnaval. Existem máscaras para todos os gostos: as políticas, as venezianas, as de heróis, as de bate-bola (Clóvis), enfim há uma infinidade delas. E você? Já escolheu a sua? Qual se adequa melhor ao seu self? Ou prefere usar a máscara que comumente se usa durante o ano todo? Ops...   


E em homenagem a festa do Momo e já pensando na quarta de cinzas, escolhi uma música que gosto muito  está no cd Que falta você me faz no qual Maria Bethânia interpreta as músicas de Vinícius de Moraes:


A Felicidade
Tom Jobim/Vinícius de Moraes

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como está noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor.





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