Sempre gostei muito de abraços. Quando alguém me dá um abraço me sinto no céu. Essa semana ganhei um abraço que me causou essa sensação. Foi muito bom. E aí, revirando meus guardados (fim de ano é sempre um pretexto para recordar) me deparei com um texto que escrevi sobre o filme Abraços partidos de Pedro Almodóvar e coicidentemente o texto é de outubro do ano passado. Quem tiver a oportunidade, assistam-o. Abaixo segue o texto:
Los abrazos rotos (Abraços partidos)
Ontem fui assistir a estreia no Festival do Rio de Los abraços rotos (Abraços partidos) de Pedro Almodóvar. Como era de se esperar, sala lotada. Fila gigantesca e gente sentada no chão da sala por falta de poltronas vagas.
Sempre tenho uma enorme expectativa pelos filmes do Almodóvar. Faço questão de ir às estreias e assistir aos filmes em primeira mão. Sou fã do cineasta. Seus filmes sempre me impactaram e me divertiam muito. Almodóvar tem uma sem-vergonhice que me encanta. Adoro o seu jeito descarado e despudorado de falar sobre sexo; seus personagens loucos e bizarros; suas tramas surpreendentes e uma pitada (Ok, um punhado) da sua biografia. Sou fã do cara!
Com Los abrazos rotos não foi diferente, seus personagens fluem muito bem na trama. Seu colorido de sempre aparece marcado pelo vermelho e laranja. A mãe solteira que sempre ao final revela ao seu filho seu verdadeiro pai. Sempre muito sexo. O homossexualismo. As drogas. O cinema e seus feitores e tudo o que gira nesse mundo. A igreja, nesse filme, com aparições sutis, em crucifixos pendurados na parede da casa de dois dos personagens principais. E claro, a linda e sempre sexy, Penélope Cruz. Penélope é a encarnação perfeita para os filmes de Almodóvar. Ela é intensa, cínica, exuberante, frágil e completamente dramática. Ela deu, mais uma vez, um show de interpretação. Porém, creio que Los abraços rotos teve um diferencial. Nesse filme, Almodóvar coloca seu protagonista, um roteirista, cego. E de uma cegueira adquirida. A cegueira de Matteo/Harry não o impossibilita, pelo contrário, Matteo é um Don Juan. Seus roteiros são escritos com a ajuda de Diego, filho de sua produtora Judit. Almodóvar usa a metáfora da cegueira para revelar todas as tramas na vida seus personagens e assim revelar o destino do filme. A cegueira é a revelação. A cegueira não oculta, ela clareia a vida dos personagens e mais uma vez desvenda os dramas de cada um. Se os olhos são o espelho da alma, a cegueira reflete no corpo de Matteo as consequências de seu desejo. E como sempre usa um final de efeito ao dizer, na voz de Matteo: “que um filme sempre precisa ser concluído, mesmo que às cegas”. Arrancando aplausos dos presentes.
Enfim, sai de lá mais fã do Almodóvar e pensativa com o ensinamento da frase final. Será que na vida não devemos deixar nada inacabado, mesmo com todas as incertezas e obscuridades? Faz pensar...
Rio de Janeiro, 01 de outubro de 2009.
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