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Animais noturnos

Tentei, mas não consegui deixar de escrever hoje, dia em que a cidade do Rio sofreu mais uma porrada: o sequestro de um ônibus cujo sequestrador veio à óbito, mas não é sobre isso que vim aqui escrever.

Acabo de assistir ao filme Animais noturnos, direção de Tom Ford, com a Amy Adams (Susan) e o lindo Jake Gyllennhaal (Edward) no elenco. Filme de tirar o fôlego porque transcende todas as suas formas de entendimento. Ótima fotografia (adoro analisar fotografias de filmes) e um vai e vem de lembranças. O filme não é linear. Para entendê-lo, nós telespectadores, temos que ficar muito atentos aos sinais. Susan é uma artista famosa, super conceituada, dona de uma galeria de arte, contudo está extremamente infeliz com sua vida e com a sua arte. Bonita, sempre bem alinhada, com os cabelos bem penteados, as roupas sempre neutras (branco, preto e cinza) e totalmente simétricas que contrasta com seu interior totalmente caótico: ponto para o figurino! A decoração da sua casa e galeria são simétricos, completamente cleans = frios. Há uma cena onde ao subir as escadas de sua galeria, vê-se um quadro enorme de fundo branco com a inscrição em preto "revenge" e ela pergunta: - Que quadro é esse? A  secretária com o figurino, robótico diz: - Você comprou ano passado, não lembra? Ou seja, este pequeno diálogo, mostra claramente a falta de percepção dela mesma. Outro detalhe não menos importante, seu marido, com quem estava casada há 19 anos,  era lindo, alinhado e... infiel, casamento pra lá de acabado... Mas e o  Jake Gyllennhaal entra em qual parte do filme? No momento em que Susan recebe uma cópia do livro de Edward que será lançado em breve e, pasmem, mandado pelo próprio. Ah, mas o que tem isso? Calma, contarei: Susan e Edward viviam juntos e iriam se casar quando ambos eram estudantes universitários. Ela uma estudante de artes e ele um estudante literário. Amavam-se. Dividiam sonhos e medos, mas a tal da semente da  dúvida foi colocada na cabeça de Susan pela mãe ao dizer que ele era um fraco sentimental e não poderia dar a "estrutura" merecida. Resultado: ela decide romper a relação bruscamente e casa-se com o colega de classe bonitão e  "promissor", resultado: infeliz.

O bacana nas obras cinematográficas é a reflexão que se dá através das imagens e diálogos. Nesse filme são várias as reflexões. Os diálogos apontam para  o que é justo, a importância do cuidado com quem se ama e com a vida delas. É preciso uma responsabilidade afetiva. 

No final Susan propõe um encontro com Edward e ele concorda, encontrariam-se depois de anos, ela toda empolgada decide ir sem batom e (aí que rola a sutileza do figurino) veste-se com um vestido verde (talvez como um sinal de esperança?), tira a aliança e vai, só que... ele não aparece... e o filme termina. Ele dá um "tapa" de luva de pelica porque mostra que ele seguiu a vida e seguiu bem e, melhor, realizando seu sonho. Superou Susan e se resolveu! Ao contrário dela! 

Quantos instantes perdemos por conselhos errados, frases não ditas, momentos não vividos, sonhos não construídos e compartilhados, amarguras, medos, culpas por elogios não feitos, por tantas coisas inúteis que achamos úteis... a vida é um sopro e reserva surpresas! Então, sou das que defendem externar seus sentimentos sem medo, arrisquem-se, coloquem cores em suas vidas, amem, não se escondam atrás de nenhuma máscara, armadura ou algo do tipo... A vida é feita de diferenças. O lirismo de Edward era o contraponto para a objetividade de Susan. O fardo é muito pesado para se carregar sozinho (a). Assistam ao filme!

Até!

  

    

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