Acabei de assistir a Bela e a Fera, a princípio, pensariam: filme bobinho de uma história romântica de um homem que com uma maldição se transforma numa fera e somente com um amor verdadeiro se transforma em um ser humano. Ok, é praticamente isso. Acho que todos, têm algo nas entrelinhas que nos dão uma lição ou nos fazem pensar.
O filme é de 2017, um musical dirigido por Bill Condon e tem Emma Watson e Dan Stevens como protagonistas. A história é ambientada na França no século XVIII. A história é pra lá de conhecida pelas crianças e a música principal também. Mas é um filme para adulto também.
Enquanto a Fera está sob a maldição, tudo é gelado, cinza e decadente. Seu castelo e tudo a sua volta é decadente. A Fera vive isolada e trancada em seu castelo. Na verdade vive trancada em si mesmo. O colorido do filme está com os objetos do castelo cuja maldição os transformou de humanos em coisas. Isso mesmo coisas, objetos... A partir o momento que a personagem Bela entra no castelo para resgatar o seu pai tudo muda, inclusive a Fera. Ela aos poucos vai fazendo que a besta encontre dentro de si o homem bom que sempre existiu. Na verdade, ele quis que esse homem aflorasse, a bondade dele estava lá, mas foi só com o amor verdadeiro de Bela, que viu mesmo com todo o exterior bestial a sua bondade. Uma das cenas mais bonitas é quando após uma dança romântica dos dois, Bela vê através de um espelho mágico com consentimento da Fera, seu pai, em que o vê em apuros, com muita dor, mas com enorme amor a Fera diz que ela vá embora salvar seu pai. Ele a liberta, a deixa ir, abdica do seu amor para que ela salve seu pai que ama. Altruísmo puro. A fotografia faz trabalho fantástico porque coloca a Fera do alto da torre vendo Bela, com seu lindo vestido amarelo, partir em meio ao cinza de seu jardim. O amarelo representa a luz que se foi.
Clarice Lispector também escreveu um livro de contos A bela e a fera, lendo a orelha tem um trecho em que menciona que a busca da independência da mulher passa pela busca do próprio eu. A personagem Tuda do conto Gestrudes pede um conselho diz que : "Senti que podia. Fora feita para libertar. Libertar era uma palavra imensa, cheia de mistérios e dores." Verdade. No filme Bela usa da sua liberdade para salvar seu pai , mas deixa um homem cheio de dor por seu amor que acaba de partir, o mais lindo que como musical, a Fera canta exatamente isso, a dor que sente pela partida de sua amada. Bela parte, mas volta com seu vestido amarelo para junto do seu amor e mesmo com lutas em seu caminho. Como recompensa a maldição se desfaz. A luz venceu as trevas! Ressalto também que há uma rosa vermelha dentro de uma redoma e não posso deixar de fazer a analogia a rosa do Pequeno Príncipe...
Sugiro que assistam ao filme, leiam o livro da Clarice Lispector e o do Pequeno Príncipe com a meticulosidade do que há nas entrelinhas... Uma vez dei de presente a uma pessoa o livro mencionado da Clarice, com dedicatória e tudo, me arrependo amargamente, não estava preparado para tal, mas são experiências que vivenciamos...
Abaixo segue duas músicas que fala da dor da Fera (só consegui em português, original é cantado por Josh Gorban) e a outra é a do final do filme na voz de Céline Dion. Duas lindas canções que dizem tudo. Gostaria muito de assistir esse musical na Broadway.
Até!
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