Quem acompanha meu blog sabe que aqui é a forma de exposição das minhas ideias, da minha reflexão de mundo e das coisas que acontecem na minha vida.
Nesta postagem vou falar de um lugar localizado na Zona Portuária do Rio de Janeiro que está prestes a fechar suas portas por falta de patrocínio: O Instituto Pretos Novos (IPN). Muitos talvez nem saibam que ele existe e muito menos o que são "pretos novos". O Instituto nasceu após os achados das ossadas numa reforma de uma casa aparentemente normal, na Rua Pedro Ernesto número 32, na Gamboa. Os pedreiros, ao mexerem no piso da residência, encontraram diversas ossadas, a princípio, pensaram-se muitas coisas, até a polícia foi acionada, até que depois do contato com alguns pesquisadores e com o IPHAN, o mistério foi solucionado: ali ficava o antigo cemitério dos chamados Pretos Novos. E o que são Pretos Novos? Os Pretos Novos foram negros escravizados trazidos da África nos navios negreiros, também chamados de tumbeiros, que por conta dos maus-tratos sofridos e pelas péssimas condições da viagem, morriam antes mesmo de terem a oportunidade de se adaptar a sua nova condição e a um novo lugar. Os que chagavam doentes eram confinados no lazareto, outros iam logo para os mercados para serem vendidos e os que não resistiam e morriam eram "enterrados" ali naquele terreno, na época baldio, numa região isolada longe dos olhares da burguesia. Na verdade, essa gente, não era enterrada e sim jogada, sem nenhuma piedade, sem nenhum tipo de sacramento. Apenas cobertos com uma pá de terra no meio do alagadiço. Depois que seus corpos eram descarnados, era atado fogo e depois suas partes eram separadas, para dar lugar a mais mortos. E não pensem que só havia adultos, mas jovens e crianças. Enfim, a história deles é muito triste e faz repensar na questão da desumanidade e crueldade das pessoas. O fato é que através dos esforços de muitas pessoas e do casal Merced e Petrucio essa história foi exposta e o instituto se fez. O achado aconteceu em 1996 e desde então muita coisa foi descoberta, muitos pesquisadores lá estiveram e ainda estão e muitos visitantes passaram por lá. O instituto tornou-se um local de oficinas, debates e de luta.
Ano passado tive um contato com o instituto, não sou uma pessoa de acreditar no acaso, acho que tudo tem um significado. Graças a esse contato tive a oportunidade de reencontrar-me com a minha ancestralidade. Tenho a mistura de uma boa brasileira, uma parte é negra (com 99% de chance de ser banto) e outra é branca (italianos e portugueses). A parte branca dali da Zona Portuária, mais precisamente da Ladeira do Barroso. A parte negra, tive a grata surpresa ao saber, em uma das oficinas do IPN, da origem banto por todas as características do meu bisavô. Meu bisavô poderia ser um daqueles ali enterrados no cemitério dos Pretos Novos e eu poderia não estar aqui contando isso a vocês. Ele sobreviveu e foi para a lavoura trabalhar como muitos bantos e constituiu uma família. Muitos que estão ali enterrados, não tiveram essa chance e o que é pior muitos foram separados de sua origem, de suas crenças, de seus familiares sem qualquer escolha, até seus nomes foram mudados. O importante é que eu tenho em minhas veias sangue de povos que enfrentaram um oceano, cada um com suas adversidades e sobreviveram. Tudo isso foi reavivado através desse lugar bem bacana que tive o prazer de conhecer.
O IPN é um lugar agregador. Todos podem chegar lá e conhecer uma pouco mais da história do casal, da história dos Pretos Novos e acompanhar as escavações que ainda estão a todo vapor. Nós precisamos multiplicar essa história.
O Brasil foi construído com muita luta, muitas dores e muitas conquistas também. Nós somos um povo muito guerreiro, temos sangue indígena também. Somos um povo "gigantes pela própria natureza" e gigantes pelas pessoas que fazem. Não podemos desistir, essa chama não pode acabar. A história dos Pretos Novos não pode ser abafada, a história da Zona Portuária não pode ser abafada, a história da cidade do Rio de Janeiro não pode ser abafada e a história do Brasil não pode ser abafada! IPN resiste!
Abaixo tem um vídeo sobre as escavações na Zona Portuária e outro é em homenagem a todos que ali foram "enterrados" e não tiveram chance...
Que bela homenagem! Obrigado e parabéns!
ResponderExcluirNão tem o que agradecer... escrevi de coração e o Instituto merece a homenagem!
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