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O mármore e o meu Anjo Interior

Existem coisas que precisam acontecer comigo e eu venho tentando entender mais a respeito. Numa ida ao shopping vi uma banca de determinada livraria com saldos de livros. Como gosto muito de ler e ler em papel resolvi dar uma conferida. Depois de examinar os livros meus olhos encontram a escultura de Davi na capa de um deles com um título bastante curioso: O Anjo Interior: os segredos de Michelangelo para que você siga a sua paixão e encontre o trabalho que ama". Pronto. Pirei! Fui até a vendedora perguntei o preço e custava menos de cinco reais. Isso aí, menos de cinco reais. Na boa, ele tinha que ser meu, pois era o único exemplar.

Ao chegar em casa comecei a ler e do período da tarde até a noite já tinha terminado. É uma leitura que apesar de gostosa é muito densa. Tudo o que a gente precisa, pelo menos eu, encontrei ali naquelas páginas. O autor, Chris Widener, através da escultura Davi de Michelangelo vai nos dizendo que seu "anjo interior" tá mais perto do que imagina e que não nos damos conta. Através dos gestos da escultura, de sua altura, do formato de sua cabeça existe um ensinamento sobre como viver as nossas potencialidades. Michelangelo não escolheu à toa um símbolo tão forte como Davi para esculpir. Tinha toda uma concepção de vida, política e espiritual para isso. O bacana do livro é que o personagem principal chama-se Thomas = Tomé. São Tomé, aquele que só acreditava no que via, ou seja, no material, no concreto, no palpável, porém, o Thomas vai aprendendo, através de seu mestre florentino, que tudo na vida não é só na concretude... Que na verdade há um ser "pleno de beleza. Um ser com poder" dentro de nós. Que existem pessoas que são pedras brutas que ao lapidar-se tornam-se lindas esculturas. Que é preciso unir a mente (etéreo) e as mãos (concreto) concebendo e criando (achei linda essa parte!), ou seja, "você concebe seu mundo na sua mente e então o cria com as mãos". Há um capítulo do livro chamado: Os estágios: cortar, esculpir, lixar e polir que é bem forte. Nele o autor menciona que "há momentos em que o Artista Supremo arranca alguns pedaços de nós, outros em que Ele está nos esculpindo, outros em que está lixando e ainda há aqueles em que está polindo. Todas essas fases são necessárias para criarmos uma bela vida, assim como são necessárias para criarmos uma bela escultura." O autor menciona que muitos de nós precisam passar pela fase de corte, "o mármore precisa ser cortado", isto é, existem partes que precisam ser descartadas para que o Anjo Interior seja revelado. Uma vida de força e beleza há necessidade de passar por esses processos, mas que pouca gente sabe disso porque tem medo da dor: "Quando perdemos partes de nós, mesmo partes ruins, que nos impedem de crescer, dói. Dói porque já nos acomodamos aos nossos aspectos negativos. Aprendemos a compensá-los. Então, em vez de permitir que eles sejam eliminados pelo corte, fugimos do processo. E assim ficamos presos onde estamos e o nosso Anjo nunca chega à superfície."  Ele ainda narra que quando eliminamos o que o nosso interior esconde, fazemos algumas seleções, pois somos produto de tudo o que permitimos nos moldar e influenciar... e isso inclui tudo o que queremos perto ou longe. "Devemos escolher essas pessoas sabiamente, pois somente algumas têm o poder de ajudar a melhorar". Outro processo é selecionar os livros que lemos, já que o livro, é uma chance de conversar com o autor e com isso não nos sujeitamos a limites de tempo e espaço. Temos a escolha de "sermos amigos" das mentes mais fascinantes que passaram pela Terra de acordo com os livros que lemos. A lixa que arranha a estátua, apesar de machucar, permite a solidez e dá significado à vida. O processo de lixar a "estátua" não nos deixa perder tempo procurando respostas simples para a vida, porque isso não existe. Precisamos enxergar as oportunidades com as coisas negativas, pois todo revés, pode trazer um resultado positivo, se assim detectarmos. O autor ainda aborda que toda a "estátua" ao final precisa ser polida, esse é o processo de deixar a beleza e a força aparecer para o mundo. Às vezes o sucesso leva anos para chegar, a estátua de Davi levou 28 meses para ser esculpida, foi gradativo, lento, porque Michelangelo sabia que o tempo e a paciência investidos valeriam a pena. "Os jovens, embora sejam capazes de realizar trabalhos maravilhosos, com energia e vigor, têm que passar pelo processo da vida e da experiência. Eles devem se aperfeiçoar e ainda precisam conhecer as pessoas que vão abrir portas para eles e ajudá-los a produzir um trabalho de força e beleza." O mentor florentino acrescenta  ao seu discípulo que "a excelência em nossos relacionamentos pagará seus dividendos mais tarde, quando alguém que conhecemos e com quem fomos gentis nos retribuir o favor e nos der a oportunidade que poderíamos não ter tido de outra forma. A excelência de nosso caráter vai fornecer o alicerce de uma vida bem vivida em todas as áreas (...)uma pessoa com muitas conquistas mas sem um caráter reto não viveu uma vida de conquistas".  Ufa!

Não vou contar como o livro termina, mas valeu muito bater um papo com o Chris Widener. Ele me ensinou e, espero que ensinem aos interessados, que basta uma coisa para operarmos tudo isso: o nosso querer. Comungar com coisas e pessoas boas que aparecem em nosso caminho. O barato é não embotar, gostar de aprender, aceitar a nossa intuição, o nosso  Anjo Interior e dar voz a ele... 

O mármore significa uma rocha metamórfica proveniente do calcário e dependendo da composição de seus minérios, pode apresentar variadas cores. Como tenho o sobrenome Rocha acho bem pertinente essa definição para minha personalidade. E como metamórfica que sou, hoje escreveria sobre João Batista, já que é dia dele, mas preferi passear por Florença e ver a escultura do Il Gigante, mas não é que para minha surpresa nesses meus passeios descobri que o padroeiro da cidade é quem? O próprio, São João Batista. Então, acredito que ao ungir minha cabeça, (como sou batizada) me inspirou a escrever a postagem de hoje.

"Meu pai São João Batista é Xangô, é dono do meu destino até o fim, se um dia me faltar a fé em meu senhor, derrame essa pedreira sobre mim". Mármore... Pedreira...

Até! Arrivederci! Kawó-Kabiesilé!


      

Comentários

  1. Analogia bem trabalhada. A construção do ser humano depende bastante das influências que ele recebe. Ótima reflexão.

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    1. Muito obrigada Isaque! Também acredito nisso, nos moldamos através das influências e de nossas escolhas!

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