Vi uma placa presa a um poste na qual dizia: Aluga-se uma quitinete moderna.
O que seria uma quitinete moderna? Seria uma quitinete reformada? O que caberia numa quitinete além de uma geladeira, um fogão e um microondas?
Espaço, todos queremos um. O ser humano é um ser espaçoso por natureza. A famosa frase: “não invada meu espaço”, não deixa dúvidas de como é importante o espaço para o homem. Não se deve invadir, usurpar o espaço alheio. A pena máxima quando alguém comete um ato infrator grave é a prisão, o confinamento. Restringe-se o espaço.
O espaço também é restrito numa quitinete. Alguns moram por necessidade, outros por economia, outros para exercitar sua independência, outros pela comodidade, entre outros fatores. Mas não existe a perda da liberdade. Pelo contrário, há uma liberdade em demasia.
Cada quitinete adquire o formato de seu dono. Aí a identidade da quitinete. Pode-se ter uma televisão pouco usada, uma sapateira velha, livros e cds empilhados, partituras, imãs de geladeira de diferentes partes do mundo, uma parede lilás, banquinhos, instrumentos, um aparelho de dvd que não funciona, uma cama colchão, antiséptico bucal, cotonetes, xampu anticaspa... Contudo, existe a imaterialidade: suspiros, gargalhadas, sonhos, lágrimas, ineditismos, planos, carinhos, esperanças, dança, sensações, músicas, solfejos, reflexões, propostas, pedidos, amizade, amor, sexo, toque...
Eu suponho que o “moderno” da quitinete, estaria em condensar tudo o que é de fato importante e essencial, a imaterialidade, num espaço restrito e saber usá-lo em doses homeopáticas, sem desperdício, otimizando as prioridades. Ao invés de você ir a um templo budista meditar, passe um período numa quitinete, isso é pra lá de moderno!
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