É com verso de abertura do samba-enredo da GRES Unidos da Tijuca de 1982 que intitulo esta crônica em homenagem a Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto.
Em 2022, será o centenário de morte desse escritor que tanto foi injustiçado em seu tempo e talvez até hoje. E aí vocês podem se perguntar o seguinte: por que ela está escrevendo isso hoje e não em 2022? Porque no dia 20 de dezembro fui visitar um muro que estava sendo pintado pelo NegroMuro cujo homenageado era o escritor. Não poderia fechar o ano de 2021 sem escrever sobre. Um ano que foi marcado por acontecimentos tão tenebrosos e ter no último mês do ano, uma ação tão bacana em homenagem a um escritor que admiro foi um respiro pra alma. Eu como suburbana, fã do escritor, professora de literatura, criadora de um clube de leitura, o LitteraeSamba, e amante do carnaval fiquei muito emocionada, ao ver que a pintura era na rua em que Lima morou, Major Mascarenhas. Estar ali, naquela rua, sabendo da biografia do escritor, me deixou muito comovida com o que estava se desvendado diante dos meus olhos. O NegroMuro é composto pelo artista Cazé que fica ao encargo das pinturas e do Pedro Rajão responsável pela pesquisa/produção. O intuito deles é "erguer monumentos pretos" através da arte urbana. No caso do Lima Barreto a questão do "muro" é muito mais marcante, pois ele viveu cercado deles (muros sociais, intelectuais, raciais, psiquicos...) e sempre tentou ultrapassá-los, porém, chegou um momento em que ele não conseguiu mais. Agora, Lima Barreto está à frente do muro, sem, literalmente, nenhuma barreira. Ele é livre, assim como as crianças que brincam de roda, suas companheiras de muro. Um ponto que me deixou muito emocionada nesse mural de 30 metros foi o escritor ser retratado com o fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras. Ele que por 3 vezes tentou, sem sucesso, entrar para essa Instituição, agora ele é eleito imortal pelos idealizadores, por nós, pelo povo porque é, ali, no muro, que está "concretizado", "cimentado" o seu desejo de outrora. A imagem do Lima de fardão, levanta um questionamento: por que a ABL não poderia fazer uma retratação e conceder uma cadeira ao escritor já que atualmente ela se mostrou aberta a eleger um cantor/compositor e uma atriz popular? É mais do que louvável, conceder essa honraria ao escritor. Independente de Instituição, Lima Barreto já é nosso, é das ruas, é do carnaval, por isso me dou o direito de chamá-lo apenas de "Lima" porque sou íntima, ele dialoga comigo, ele se faz presente no meu cotidiano, os seus escritos me fizeram e me fazem refletir, questionar. A comprovação de que Lima Barreto é das ruas está no carnaval de 1982 onde o enredo Lima Barreto, mulato, pobre, mas livre da Unidos da Tijuca, foi realizado na Marquês de Sapucaí, antes da inauguração do que hoje conhecemos como Sambódromo, em 1984. O desfile foi idealizado pelo carnavalesco Renato Lage e o samba-enredo composto por Adriano ficou eternizado na voz do intérprete Sobrinho, familiares do escritor desfilaram e até hoje, ouso dizer, foi uma das melhores homenagens carnavalescas, porque ele não se reduz a um papel de coadjuvante, pelo contrário, ele era O protagonista. A letra do samba é completamente biográfica. Não há menção de personagem A ou B, ou seja, como muitos de seus personagens eram inspirados nele mesmo, no samba, ele está desnudado, ele somente é!
Ficaria horas escrevendo sobre Lima Barreto e do quanto ele é importante para a literatura brasileira, quiçá, mundial. Beatriz Resende, Lilia Schwarcz, atores e artistas, acadêmicos, se debruçam na vida e obra do escritor e fazem com que a sua grandiosidade permaneça, mas acima de tudo, o que o tornará vivo são os seus leitores. Portanto, Lima Barreto continuará a sua imortalidade através dos "pequenos grandes" gestos de pessoas comuns, de coletivos, gentes sem "títulos". Então, visitem o muro, tirem foto nele, espalhem nas redes sociais, compartilhem tudo desse grande escritor chamado Lima Barreto, subam a hashtag: #LimaBarretoNaABL. Vamos homenageá-lo muito no ano que vem! Vamos presenteá-lo com a liberdade!
Lima Barreto "este seu povo que falar só de você/a sua vida, sua obra é nosso enredo" e é "em louvor e gratidão" que me dei o direito de escrever esta humilde crônica!
Até!
Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirMuito obrigada! 😊
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