Olá pessoal,
Vocês diriam que uma mulher franzina, sofrendo de artrite, fora de qualquer padrão estético estabelecido, dada como incapaz, certamente, ao longo de sua infância e juventude, sofreu sérios ataques preconceituosos e teve a filha vendida ao nascer, conseguiu pintar e ver a vida com tanta sabedoria, beleza e humildade? Pois bem, essa pessoa existiu: foi a pintora Maud Lewis.
Maud Lewis nasceu em 1903 e morreu em 1970. É considerada uma pintora folk (folclórica). Nunca saiu da Nova Escócia, Canadá. Casou-se com um peixeiro, Everett, que foi seu grande companheiro. Suas obras tiveram reconhecimento mundial nos anos 60 e inclusive tendo como cliente o presidente Nixon.
Não vim contar neste texto a vida e obra da Maud porque isso tem aos montes, e sim, considerar a respeito do belíssimo filme de 2016 que acabei de assistir: Maudie: Sua vida e sua arte. Sally Hawkins (A forma da água entre outros) dando corpo, voz e trejeitos impecáveis a protagonista. O galã cinquentão Ethan Hawke (Antes do pôr-do-sol, Antes da meia-noite, Sete homens e um destino entre outros) brilhante na atuação como marido rabugento. A fotografia fazendo a metáfora entre o a natureza hostil da gélida Nova Escócia (seu corpo deformado pela artrite) e sua calorosa alma reproduzida nas paredes internas de sua casa, nos cartões e em seus quadros. O filme é bonito de se ver e ganhou vários prêmios.
Maud só queria ter sua vida simples ao lado do marido. Num dado momento ela é perguntada se pode ensinar a pintar e ela diz com muita doçura e de forma muito simples, "que a pessoa já nasce com aquela vontade". Ela nunca saiu do Canadá ela pintava suas memórias e o que via no seu cotidiano. Dizia que a "vida já é enquadrada, tal qual ver por uma janela". Fico pensando se não é por aí, da nossa vida já ser enquadrada... ou de sempre querermos nos enquadrar... A beleza da Maud era ela. Sua forma de ver seu cotidiano. Sua "pequena" vida, na verdade era uma tela gigante.
Assim como muitos artistas, Maud vivia na pobreza e morreu nela, mesmo tendo fama internacional. Ela pode ver suas obras reconhecidas em vida, mas nada lucrou, continuou vivendo do mesmo jeito, somente com sua casa mais colorida e com tela anti moscas na porta (quem ver o filme vai saber). Porém, existe um momento do filme em que ela pergunta ao marido se "foi amada", aí não pude conter as lágrimas. Sempre há essa necessidade de termos importância pra alguém. Invariavelmente, em algum momento da nossa vida nos defrontamos com essa pergunta. Isso que é a grande mola da vida: o amor. Queremos ter importância pra alguém, no micro e não no macro.
O filme é necessário! Vejam!
Até!
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