Esta semana fui surpreendida, enquanto fazia esteira na academia,
por um vídeo de lançamento do filme 50
tons de Cinza baseado no best-seller homônimo. Sinceramente não achei nada
surpreendente. Não fiquei a fim de ver e nem de comprar o livro, até porque não
tenho “quedas” por best-sellers.
Por conta do tal lançamento, surgiram enxurradas de gente
compartilhando nas redes sociais e vários suspiros femininos para o personagem
principal chamado Christian Grey (até bem pouco tempo esse nome me remetia a
uma marca de cosméticos dos anos 70).
Bora falar do tal filme. Parece-me que a história é a de um
cara (Grey) bonitão, sarado, bilionário e sedutor que, ao ser entrevistado por
uma moça tímida e sem muito sal, resolve investir em seduzi-la e mostrá-la seu
universo particular de erotismo e glamour. E pela minha dedução, a moça se encanta pelo
cara, dá uma repaginada no visual e solta toda a Cicciolina que existe nela. Não sei como acaba a história e nem é o que
importa aqui. Na verdade, a história é
pra lá de batida e seus personagens também. Porém, o frisson que causou no
mulherio não tá no gibi. Acredito que
por conta da sociedade estar mais visual, consumista, frívola e solitária histórias
como essa sejam louvadas. Contudo, outro componente surge: o da ilusão. A
ilusão do par perfeito, do sexo fantástico, do homem bem-sucedido, do
namorado/caso/marido/amante capaz de descobrir e realizar nossos desejos, tudo
num homem só. Meninas, sinto informar: homens
como o tal Grey não existem. E se
existir, provavelmente, não têm todos os predicados do bonitão. Eles defecam,
peidam, tiram melecas, fazem xixi e muitas outras coisas esdrúxulas. O que
existe de verdade são homens e mulheres reais cada um com suas peculiaridades e
formas de sedução. Vamos parar de idealizar pois, no mundo como o nosso, isso não cabe mais.
Idealizações só servem para nos frustrar e causar dor. Vamos tentar ser felizes
com os nossos pares reais ou sejamos felizes sozinhas.
Vale ressaltar que a história do bonitão sedutor que
conquista a moça sem sal já foi contada muito bem pela grande escritora Clarice
Lispector em seu belíssimo livro Uma
Aprendizagem ou o Livro dos prazeres onde Ulisses (o bonitão) é um
professor de filosofia (quer mais charme do que isso) ensina o desabrochar da
sensualidade na “sem sal” Loreley. O
livro é erótico, sensual e romântico. E para os momentos das ilusões românticas
vale a pena darmos uma lida no Amor de Perdição
de Camilo Castelo Branco ou até mesmo (se quisermos um romance de novela
mexicana) os velhos livrinhos Júlia e
Sabrina comprados em bancas de
jornais. Todavia, criar um modelo de homem
e viver na ilusão não dá.
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