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Risco ou terapia?


Li recentemente que Steven Soderbergh lançou no Festival de Cannes seu mais novo filme: Terapia de Risco. O tema básico é a forma como as pessoas lidam com seus processos emocionais. Os personagens (psiquiatra, paciente e família) giram ao redor de algo que parece ser a cura dos males emocionais: um novo antidepressivo. E aí o filme vai se desenrolando numa trama cheia de suspense.

Quando li a respeito do filme, a frase que me chamou atenção foi: “felicidade em mercadoria”. No ato me inquietou. Um termo muito forte, mas que tem relevância. Qual será o caminho para a felicidade? Hoje parece ser uma obrigação expormos que somos felizes. Somos obrigados a estar bem o tempo inteiro. A mostrar como somos envolventes, como somos populares e como podemos ter um séquito de amigos. Mostrar a todos como somos bem sucedidos, que temos o parceiro perfeito(a), a família perfeita, enfim tudo perfeito. A felicidade nos é empurrada goela abaixo sem sermos perguntados se a queremos ou não. Ouso dizer que hoje a felicidade é material. Carro, casa, cabelo novo, corpo novo, namorado(a), emprego, cifras, roupas, restaurantes, badalação, viagens, amigos, tudo se agrega a felicidade. Lógico, precisamos de alguns itens básicos para a sobrevivência. Porém, o que se vê, não é isso e sim o acumulo de coisas e a máxima exposição das pessoas. Isso sim é preocupante. Se não informarmos o quanto somos “felizes” a todo tempo estamos excluídos do grupo. Precisamos ser acessados, vistos, invejados... E como a exclusão é dolorosa e frustrante, recorremos a artifícios que talvez não fossem necessários outrora, como a adoção de alguns medicamentos que são capazes de dar um empurrãozinho no aparecimento da “felicidade”. É o suficiente?

Aproprio-me da frase do comercial e lanço: “O que faz você feliz?”. A quem podemos recorrer para entender o nosso interior: aos filósofos, aos médicos ou a indústria farmacêutica? Será que não podemos mostrar derrotas? Somos inatingíveis? A quem queremos enganar: a nós ou aos outros? Eis que surge a maior e mais inquietante das perguntas:

A felicidade com toda a sua abstração tornou-se capitalista?     



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