Era uma vez uma cidade que tinha em seus habitantes a busca por formar e afirmar sua nova identidade preservando as tradições de seus ancestrais. A cidade era constituída por gente da mais variada etnia. Onde em cada canto existia o suor, a luta por reconhecimento e a beleza de sua gente.
Cidade que mostrava sua formação nos contornos de suas ruas, na alegria dos ranchos e nas festas de seus terreiros. Uma gente talentosa frequentava as festas dessa cidade. Políticos, músicos, médicos, artistas, jornalistas e os “sem profissão”. Todos juntos. Num grande bailar de corpos.
A cidade cresceu passaram-se muitos anos e esse povo miscigenado conseguiu fazê-la uma referência mundial. Principalmente na folia. Hoje, no mundo, não há quem não a conheça.
Digo isso, pois, a cabo de ler um livro que me fez viajar e viver os passos daquela gente. Caminhar pelas ruas, assim como eles caminharam, inclusive em muitas já estive. Saber o significado de uma inscrição em latim do prédio ainda presente na avenida movimentada cujo nome é de um presidente. Lembrar da minha gente, chegando em navios fétidos, agonizando em seus porões.
Nei Lopes como um exímio conhecedor fez de seu livro um primor aos meus olhos. É a mais pura história romanceada. Contou a vida de uma das mulheres mais influentes dessa tal cidade. Onde tudo girava ao redor de sua força maternal, seus quitutes e suas festas. Somos filhos dela e de tantas outras. Por causa dela fui pintor, boneca de barro, noiva, padre, e outros tantos personagens. Por conta dela, em criança, me fantasiei de baiana, com direito a todos os balangandãs. Por meus ancestrais subi o Morro da Conceição e a Ladeira do Barroso. Por minha gente percorri o centro velho e fui até os subsolos das igrejas. Por isso sou o que sou e serei sempre.
Obrigada Nei Lopes pelo primoroso livro, Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova, por tudo aquilo que me fez lembrar e reconhecer. Obrigada Tia Ciata (Tia Amina/Honorata). Obrigada Praça Onze, Gamboa, Santo Cristo, Saúde... Obrigada Vó Chica, Vó Emma, Vó Isaura e Mãe Julia... Obrigada às mulheres da minha vida!
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