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A Árvore da Vida


“Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus? (Jó, 38:4,7- O Senhor convence a Jó de ignorância)


Assim começa o filme A Árvore da Vida de Terrence Malick, com versículos do Livro de Jó. Jó era um rico proprietário de terras; homem íntegro e reto, temente a Deus e sempre se desviava do mal. Até que Satanás propõe a Deus tirar todos os bens de Jó a fim de que este ratifique a sua fé. Deus então, confiante na fé de seu filho, retira todas as bênçãos de sua vida. Jó passa por provações das mais diversas, porém, permanece com sua fé.

A abertura do filme com o livro de Jó dá o caminho o qual irá seguir. A história de uma família, temente a Deus, que com a perda de um ente amado, questiona sua fé. O quanto é doloroso para uma mãe perder um filho? Dor imensurável. Além de contar a história da relação entre pai e filho, o filme conta também a história das relações humanas e como nós enfrentamos a perda em geral (familiares, emprego, convicções).

Malick carrega seu filme de símbolos, já começando pelo título. A árvore é um símbolo da vida, em eterna evolução e em ascensão para o céu. Ela coloca em comunicação os três níveis do cosmo: o subterrâneo (raízes); a superfície (tronco e galhos inferiores) e as alturas (galhos superiores e cimo). Reúne todos os elementos: a água circula com sua seiva, a terra integra-se ao seu tronco por meio de suas raízes, o ar nutre as folhas e dela brota fogo caso seus galhos se esfreguem. Ela também, servirá como instrumento de queda de Adão e de sua redenção com a crucificação de Jesus (já que a cruz é feita de madeira). Buda alcançou sua iluminação debaixo de uma árvore (Árvore do Mundo), onde Brama representa as raízes, Xiva o tronco e Vixenu seus galhos. A teoria do Big Bang é abordada com imagens lindas e somente com a voz ao fundo ora da mãe, ora do pai e ora do filho primogênito. O casal (Brad Pitt e Jessica Chastain) tem três filhos representando assim a tríade. O cenário é composto por elementos claros, retos, e carregada de vidros significando o sagrado e transparência das ideias. A insatisfação do filho mais velho (Sean Penn) quanto criança e quanto adulto dá toda a ligação entre o mundo de seus pais e o mundo divino. Assim podemos entender um pouco da sua relação familiar e da sua relação com o mundo.

Malick joga para o espectador, na voz de seus personagens, frases que geram questionamentos: “Serei fiel a você o que quer que aconteça”(mãe ao se referir de sua fé em Deus); “As pessoas estão cada vez mais gananciosas. O mundo cada vez se deteriora”(filho mais velho), “Quem somos nós para você?”(mãe a Deus) entre outras.

O filme é impactante. Tem uma bela fotografia, é envolvente, e inúmeras interpretações. Certamente ao assisti-lo você não sairá mais o mesmo. Destaco as cenas em que mostram o nascimento do primogênito até a fase em que anda pelas próprias pernas. Ela mostra todo o amor que uma mãe emprega em um filho, elo fabuloso, divino. E tirá-lo abruptamente deve ser a coisa mais terrível do mundo. Acredito que a resposta de Deus a pergunta da mãe (Quem somos nós para você?), caso houvesse, seria: Vocês para mim são apenas poeiras.                   




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