Descobri Cartas a um jovem poeta, do escritor Rainer Maria Rilke, através de uma entrevista de uma promissora cantora em 2006. Desde então, é o livro que “vira e mexe” está em minha cabeceira. O livro que possuo, cheio de marcações e observações, é da editora L&PM. Livro pocket, contém apenas as cartas de Rilke para o jovem e aspirante poeta Franz Kappus. Apesar de ser pocket, o livro carrega um gigantismo em suas páginas.
Kappus é um jovem que vive um dilema: seguir a carreira militar ou enveredar-se pelo caminho das letras. Em virtude disso, começam as trocas de correspondências com o já renomado poeta Rilke. Estabelece-se então um diálogo, na verdade, diria um monólogo (se é que posso chamar assim) de aconselhamentos para o jovem aspirante. Questões tais como: arte de escrever, crítica literária, poesia, viver artisticamente, paciência, amor, sexo, estabilidade, maternidade, seres humanos, solidão, Deus, enfim, algumas que puderam, a princípio, ser enumeradas, rondam o universo do livro. Uma obra é dita como clássica devido a sua capacidade de perpassar os tempos. Ou seja, se a mensagem que tal obra - seja ela no teatro, cinema, literatura, pintura, música - transmite for universal, podemos nomeá-la clássica. Os dilemas que tanto afligiam o jovem poeta no início do século XX são os meus dilemas e de tantos outros em pleno século XXI. Independente do tempo, da idade, do lugar, dos sonhos, dos modelos. Os conflitos existenciais até hoje surgem consumindo, invertendo, subvertendo, revertendo, calando, torturando, amedrontando...
Alguns trechos que merecem meu destaque:
“Não há nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de crítica; elas não passam de mal-entendidos mais ou menos afortunados.” (p.23); “Ser artista significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que não apressa sua seiva e permanece confiante durante as tempestades da primavera, sem o temor de que o verão não possa vir depois.” (p.36); “Alegre-se com seu crescimento, para o qual não pode levar ninguém junto, e seja bondoso com aqueles que ficam para trás, seja seguro e tranquilo diante deles...” (p.47); “O amor constitui uma oportunidade sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um mundo para si mesmo por causa de uma outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe.” (p.65/66).
Também ouso transcrever minha anotação após a leitura primeira em 2006. Assim me revelo:
“Seria ótimo se todos tivéssemos a clareza de pensamento tal como Rilke! Infelizmente eu ainda não tenho e nem sei se chegarei a ter. Estou tateando no escuro de mim mesma. Mas, quem sabe, ao relê-lo inúmeras vezes, comece a chorar menos, decepcionar-me menos e conjecturar menos.
Este livro é um bálsamo para mim neste momento de tantos conflitos, pois descobri que esses mesmos conflitos estiveram presentes na vida do jovem Kappus há mais de cem anos.
Asseguro que este livro estará sempre por perto dando-me coragem para continuar a jornada.” (outubro/2006).
Não é meu intuito querer convencer alguém a comprar o livro, porém, se você ainda tem um pouquinho de poesia ou de juventude em seu íntimo ou mesmo quiser ser acordada e acordar alguém com uma bela mensagem de Rilke pelo celular, faça já sua aquisição.
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