"Amam-se ou antes suportam-se melhor aqueles que se fazem célebres nas informações, na redação, na assiduidade ao trabalho, mesmo os doutores, os bacharéis, do que os que têm nomeada e fama. Em geral, a incompreensão da obra ou do mérito do colega é total e nenhum deles se pode capacitar que aquele tipo, aquele amanuense, como eles, faça qualquer coisa que interesse os estranhos e dê que falar a uma cidade inteira". (Triste Fim de Policarpo Quaresma, p.55)
O trecho acima foi escrito por Lima Barreto, o homenageado pela Flip este ano. Adoro o Lima e tudo o que ele escreveu. Seu tom crítico, irônico, incomodava a todos de sua época. Lima incomodava por tudo: pela sua cor, pela sua escrita, pela sua capacidade de criticar, pela sua pobreza e pelo seu alcoolismo. Lima incomodava. E quando a gente incomoda aí é que surge o problema.
Acho que essa homenagem da Flip veio tarde, mas antes tarde que nunca. De uma certa forma veio a calhar pelos assuntos que estão em voga no cenário atual. Porém, sinto-me curiosa sobre como Lima escreveria ou falaria a respeito dessa homenagem.
Lima Barreto é o dia-dia da cidade do Rio de Janeiro, suas obras precisam ser propagadas nas escolas, precisa-se discutir o que ele falou. Lima era um verdadeiro cronista, coisas que ele escreveu estão aí até hoje.
Lembro que quando li Triste Fim... pela primeira vez, logo comprei a briga do Policarpo, comecei a usar as cores da bandeira do Brasil pendurada na mochila e sabia que futuramente queria propagar meu país no trabalho que fizesse. Formei-me em Literatura Brasileira, não quis estudar inglês e daí pra frente coloquei na cabeça que poderia inserir a literatura na arte (o que é verdade) e batalharia meus trabalhos por minha conta, sem babar ovo de ninguém, aliás nunca gostei disso. Virei uma visionária, assim como Lima. Fui caminhando minha vida sempre acreditando que poderia contribuir de alguma forma para o meu país, através da arte, da literatura, fui procurando trabalhos ali, acolá, mas fui descobrindo, assim como Lima, que sempre há um "você não é do perfil", "você não conhece fulano?", "quem te indicou" e que pra gente entrar em lugares onde existe muita gente insuportável nos seus altos títulos, você precisa ser um tantão vaselina ou uma máscara bem convincente pra se igualar a esse tipo de gente. Há cerca de uma ano e meio descobri isso mais ferozmente. Vi que existem pessoas que usam a amoralidade para conseguir o que querem e não tem o menor pudor em usar de qualquer meio para se beneficiar. Lima era o oposto disso. Por isso que o título do mais novo livro de Lilia Schwarcz foi bem propício Triste Visionário. Lima foi visionário. Lima não suportou as porradas da vida. Seu grande sonho não se concretizou, por mais que ele tenha tentado... Porém, ele deixou uma grande obra.
Eu ainda não consegui concretizar muitos dos meus sonhos, alguns já...
A pergunta é: Até que ponto devemos ser visionários? Porque de uma certa forma eu ainda sou, mesmo que se aquiete, por enquanto, no coração.
Salve Lima Barreto!
Até!
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