Era uma vez uma menina que sentada no batente azulejado da janela contemplava o entardecer... Essa menina dobrava as pernas e com os braços abraçava os joelhos e deitava a cabeça sobre eles. Cena de filme. A janela era do seu quarto, era num subúrbio distante...
O que pensava essa menina todas as tardes? Talvez na sua vida futura ou mesmo na beleza dos passarinhos comendo as amoras. A menina adorava as chuvas de verão (sol e chuva casamento de viúva/chuva e sol casamento de espanhol) e o lindo arco-íris que se formava depois. A menina adorava tomar banho de chuva e do seu batente ver os pingos da chuva caindo nas poças formando inúmeros círculos. A menina adorava sentir o cheiro de terra molhada quando começava a chover em seu quintal. Mas ela sempre estava ali sentada no seu batente. Ela pensava, acredito eu, em grandes coisas que pretendia fazer quando fosse dona das suas pernas, pensava em conhecer mundo, pessoas, olhava muito para o céu e desconfio que ela gostaria de descobrir o mistério das nuvens e estrelas, e do grande sol. Sabia que a vida iria além da sua janela, pois os livros que lia mostravam a imensidão do mundo. Um belo dia a amoreira foi derrubada por conta dos cupins e seus avós se foram, aí descobriu que a vida era feita de perdas. Ela cresceu. Estudou. Conheceu pessoas e muito mais livros, seu universo expandiu-se, amou, desamou, viajou (não o mundo ainda), amou novamente... e descobriu o lado sombrio das pessoas. Conheceu a alegria e a tristeza, a amargura e a inveja, egoísmo, enfim, viveu. Descobriu a falibilidade dos humanos.
Hoje essa menina não senta mais no batente da janela. A janela de madeira foi substituída pelo alumínio e o batente de azulejo pelo mármore. Há grade na janela, tudo perdeu o charme. Ela não consegue mais subir no batente, mas o entardecer permanece e os cantos dos pássaros também, porque é primavera. Se ela me pedisse um conselho não saberia o que dizer, apenas a abraçaria e choraria com ela...
Até!
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