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Diáspora

Olá, hoje a minha postagem vai ser um pouco diferente. Tenho assistido muitos filmes legais recentemente pela Netflix. A empresa cada vez mais ganha força no mercado brasileiro, talvez no decorrer da semana fale sobre alguns filmes que vi. Mas hoje vai ser um pouco diferente: vou falar sobre música.

Ontem coloquei em minha rede social que acordei com os versos de Castro Alves na cabeça: "Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?/Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes...", são os versos iniciais do poema Vozes d'África, um clássico do poeta condoreiro. Fiquei me perguntando sobre o porquê dos versos em minha mente, já que não tinha lido nada sobre ou a respeito do poeta na noite anterior... Mas como sou uma pessoa de crenças e de tentar interpretar tudo a minha volta, acredito que a mensagem pra mim está muito clara.

Gosto do etéreo e do mistério que há. Tenho estudado muito sobre vários temas. Sou o tipo de pessoa que pesquisa aquilo que me aguça e vou fundo. Como acredito nos sonhos, acho que neste momento da minha vida, na vida de todos os brasileiros, no mundo, esse tipo de pergunta do poeta condoreiro, se encaixa muito bem.

Neste momento em que escrevo, o subúrbio vive um estado de tensão. O morador carioca está com medo das ruas, principalmente à noite. Policiais assassinados quase que diariamente, Van escolar sequestrada, o estado em crise, servidores do estado enfrentando fila para pegarem cestas básicas doadas, desemprego, refugiado sendo hostilizado por puro preconceito, a prefeitura fazendo censo religioso, enfim, sabe lá quando isso vai parar e se vai. 

O que a música tem a ver com isso tudo? Explico. Os Tribalistas anunciaram sua volta para lançarem o cd número quatro. Divulgaram na rede quatro músicas, porém, a primeira lançada é de nome Diáspora. Não tinha ouvido ainda, ouvi hoje. Fiquei comovida e pasma...  a trinca Brown, Marisa e Antunes vieram afiados e como sempre, com cada coisa no seu devido lugar. Não sou crítica musical, mas a presença do recitar perfeito e marcante do Arnaldo Antunes já no início da música com um poema de Sousândrade, onde a dicotomia divino-humano reforça o lado moderno do trabalho em contraposição ao que é divino, como uma antífona, talvez. A poesia de Sousândrade está super encaixada com o que pretende o grupo. De uma certa forma ela já vem anunciando isso. O ritual do iniciado, com seus desafios para atingir a divindade. O sacrifício coloca-se na letra no trecho "atravessamos o mar Egeu" para talvez ir à uma terra onde há esperança e só com muita crença no divino se poderia encarar tamanha viagem. Porém, mesmo com tantos sacrifícios, perdem suas origens e aí vem a pergunta: "onde está meu irmão...". Aí que o moderno e o clássico se juntam. Todos estamos órfãos e nossos ancestrais também. A voz da Marisa, como sempre, perfeita. Se você for mais detalhista no ouvir, perceberá que Brown coloca na abertura da música, um som semelhante às palmas que os filhos de santo saúdam os orixás no candomblé.  Brown com sutileza escolheu um instrumento para substituí-las. Dando a sacralidade da música a ser apresentada. A cereja do bolo pra mim foi em determinado momento Antunes com sua voz peculiar recita os versos de Vozes d'África, do poeta condoreiro, Castro Alves, eu não sabia se ria, chorava ou os dois... O grupo junta duas poesias clássicas para início e término de seu trabalho, complementares, dando a cara da proposta Tribalista.

Como acredito na beleza do Universo, tô no caminho certo do que pretendo fazer...

Que o clamor de Castro Alves, de todos nós sejam ouvidos e cheguem respostas, mesmo que as precisemos decifrar. 

Sugiro que leiam a poesia completa de Castro Alves e Sousândrade, citadas na música, são lindas. Ponto para os Tribalistas que no geral fazem música e literatura convergirem muito bem.

Até!




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