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A festa do Momo

Carnaval está aí na porta. A batucada já vai começar. Os blocos já estão na rua e os desfiles das escolas de samba em breve estarão na Sapucaí. Carnaval é o momento de esquecer os problemas e cair na folia. É assim que todos pensam, mas ontem fui num bate-papo sobre Carnaval e Literatura promovido pelo Departamento de Letras da UERJ, e um dos debatedores era o historiador Luiz Antônio Simas e num dado momento ele menciona que "quem pensa que carnaval na Sapucaí é a desordem está enganado" emendou dizendo que poderia dividir o carnaval do Rio em "Oxalufânico e Exusíaco". Achei o máximo essa colocação. Que o carnaval Oxalufânico seria o carnaval da Sapucaí com toda ordem e regra que o velho orixá impõe e o das ruas seria o Exusíaco com o improvável e a desordem, porém, ele completou: "Exu também coloca na linha quando tem que ser colocado". Fiquei pensando nessa colocação e corri pra pesquisar o itã de Exu e sua relação com Oxalá.

No livro de Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás, existe um itã que conta que Exu não tinha profissão, fazenda, riqueza, nem artes, nem missão, andava vagabundeando por aí sem paradeiro. Um dia ele foi até a casa de Oxalá observá-lo fabricando os seres humanos. Ia lá todos os dias. Muitos também iam visitar o velho orixá, mas ficavam pouco, traziam oferendas e logo partiam, mas Exu ficou na casa do velho orixá 16 anos. E como prestava muita atenção na modelagem dos humanos, logo aprendeu como fabricar os homens e assim passou a ajudar Oxalá. Exu só observava e prestava muita atenção. Então Oxalá pediu a Exu para tomar conta das encruzilhadas e assim selecionar quem poderiam visitá-lo, já que ele não tinha tempo para receber tantas visitas, pois fabricava cada vez mais humanos. Assim, Exu recebia as oferendas e entregava para Oxalá. Então Oxalá decidiu recompensá-lo e determinou que todos que viessem até sua casa, antes deveria pagar alguma coisa a Exu. Exu mantinha-se sempre a postos com seu porrete (ogó) afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância. Exu trabalhou muito, ganhou uma profissão, uma casa (as encruzilhadas) e assim ninguém pode mais passar por ele sem pagar algo.

Esse itã tem muitas interpretações, mas o que é fato é que Oxalá e Exu se coadunam. Exu é o permissivo, mas também o cobrador do grande Criador. Nada passa incólume por ele. Oxalá assim o determinou. 

Então que neste carnaval sejamos irreverentes e sensatos. Aliás é um conselho dica para todo sempre: responsabilidade e sensatez. Sejamos rigorosos com nossas atitudes diante da vida para que Oxalá nos deixe passar sem levar as porretadas de Exu.

Como eu sou uma pessoa que não gosto andar por aí de peito aberto, mas só com a ajuda dos santos... Dedico aos leitores esse samba lindo da Escola de Samba da Estação Primeira de Mangueira deste ano cujo enredo é: Só com a ajuda do santo.

Axé!

  

Comentários

  1. Certíssimo Luzia. Quem afirma que essa época é só desordem desconhece o evento. Interessante notar que o samba enredo acima preze tanto pelo sagrado numa festa tão associada com o profano. Abraços.

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  2. Isaque, sagrado e profano estão juntos. Se formos mais além em estudos veremos que muitas devoções têm seus tambores e toques. Em muitas civilizações os tambores são meios para se chegar ao Sagrado. A Sapucaí é um local sagrado se pegarmos toda a história do Rio de janeiro, engana-se quem pensa que Sapucaí é só um local de desfiles! Abraços!

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