Nem sei como vou começar esta postagem... Há muita coisa acontecendo em minha vida, acredito que renderia um bom filme...
Há dois dias fui acompanhar minha mãe numa consulta oftalmológica no Hospital Pedro II. O hospital fica localizado no subúrbio, no bairro do Engenho de Dentro. Ficou conhecido como um hospital psiquiátrico, na verdade, ele é mais conhecido pela importância da Dra. Nise da Silveira. Hoje há uma política antimanicomial, onde visa a reintegração dos internos com suas famílias. Porém, isso é um pouco controverso e dá muita discussão sobre a veracidade dessa política. O caso é que o hospital está em ruínas e ainda existem muitos pacientes lá. Com muito esforço, médicos e terapeutas ainda o mantém funcionando. Se restaurado, o hospital ficaria lindíssimo pois ele parece uma chácara.
Acredito que a maioria dos brasileiros conhecem ou já ouviram falar da Dra. Nise da Silveira, inclusive recentemente, saiu um filme a respeito dessa grande mulher que revolucionou o tratamento dos "loucos". Nise (me darei essa intimidade) foi uma médica que através da terapia ocupacional pôde verificar o interior daqueles pacientes tidos como "malucos" e através de seus métodos revolucionou a psiquiatria no Brasil. Seu grande mestre foi Carl Gustav Jung ambos trocavam correspondências e nelas compartilhavam suas experiências no campo do incosciente. Jung foi um grande psiquiatra e psicoterapeuta que através de seu universo interior desenvolveu uma série de estudos no campo dos sonhos, mitos e religião. Sempre tentou aliar religião e ciência no entendimento da psique humana. A biografia da Dra. Nise e do Jung é facilmente encontrada na internet. Mas por que estou falando tudo isso? Pra contar um fato curioso que aconteceu em minha visita ao Museu Imagens do Incosciente, fundado pela Dra. Nise, localizado dentro do hospital.
Quando estava olhando algum dos lindos quadros do museu, um senhor abordou a mim e a outras pessoas e pediu que fossemos pra perto de uma série de quadros e começou a contar uma história, a história da Adelina. Adelina era uma moça e apaixonou-se por um rapaz. Ele não era bem visto pela família da moça e proibiu-a de vê-lo trancando-a no quarto, Adelina então proibida de ver seu amor torceu o pescoço do gato e sua família a internou no manicômio, o hospital Pedro II. Dra. Nise sabendo do caso de Adelina, colocou-a para fazer as terapias ocupacionais e com isso saíram uma série de quadros lindos sobre fuga de amantes e num deles estava pintado a Adelina transformada em árvore... Dra. Nise muito encucada com as pinturas escreveu ao seu mestre (Jung) contando das obras de sua paciente. Jung disse que ela só conseguiria entender se estudasse sobre mitologia e seus arquétipos. Dra. Nise pesquisou e descobriu que Adelina estava pintando quadros através do arquétipo feminino da ninfa Dafne. Dafne era uma ninfa que foi flechada por Eros e com essa mesma flecha atingiu Apolo, ou seja, flechou os dois com a flecha do amor. Apolo perseguia Dafne que nada queria com ele. Cansada de fugir de Apolo, Dafne pede a seu pai, Peneu, ajuda e este a transforma em um loureiro, assim, Apolo passou a carregar um ramo de louros pra sempre estar perto de sua amada. O mito de Dafne e Apolo representa o amor impossível, ou seja, Adelina estava pintando sua própria história. Pausa... Adelina não conhecia a história da mitologia grega/romana. Mais a frente num "surto" de Adelina a Dra. Nise colocou-a para trabalhar com o barro e ela produziu peças que tempos depois se assemelhavam muito com peças descobertas em escavações arqueológicas nas regiões do antigo Império Romano. Pasmos? Eu também fiquei! O mais bacana disso tudo é que o tal senhor que contava a história tinha um lindo cristal pendurado no pescoço e perguntou se eu acreditava em vida pós morte e reencarnação, eu e as outras pessoas respondemos positivamente. Ele nos fez refletir se aquilo não era mediunidade... Ah, só um adendo, o tal senhor era paciente do hospital e tinha obras expostas no próprio museu. Contou-me a linda história da Adelina e sobre o desdobramento do espírito muito bem.
Continuei minha visita, vendo inúmeras obras que me pareceram muito com a escola impressionista, outro quadro parecendo com as obras de Volpi e de arte Naiff. Ouvi relato de que um dos pacientes ao entrar em "surto" pintava seus quadros em 3 horas... Aí me pergunto, sobre um Dalí, um Miró, um Van Gogh, um Monet entre tantos outros que foram considerados grandes artistas, também não poderiam estar no Pedro II? Quantas foram as pessoas internadas sem um real histórico de doença mental? Quantos artistas estão lá ainda ou já estiveram, relegados do convívio social, esquecidos por detrás dos muros do hospital?
Vale muito a pena visitar Museu Imagens do Inconsciente e conhecer mais o trabalho da Dra. Nise. Que estejamos sempre prontos para conhecer histórias e crescer com nossas descobertas. Para quem é do meu convívio mais íntimo sabe que minha jornada tá só se intensificando... Eu tinha que estar naquele local ouvindo aquela história...
Se um dia você for lá no museu, for abordado por um senhor de chapéu de palha e um cristal no pescoço, pare pra ouvir porque será bem bacana!
(Dafne e Apolo)
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