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A garota dinamarquesa

Acabo de assistir ao filme A garota dinamarquesa de Tom Hooper. Há em mim uma mistura de sensações. Não vou ao cinema baseado em críticas, geralmente, vou baseada nos atores, na direção e na trilha sonora. Prefiro ter minhas conclusões. Nesse caso fui por conta do ator Eddie Redmayne que já conhecia de alguns outros trabalhos, porém, o trabalho que me fez prestar atenção em seu talento foi em Pecados Inocentes onde atuava brilhantemente com Julianne Moore. Com um misto de androgenia e fragilidade esse ator esbanja carisma. 

O filme trata basicamente sobre os Transgêneros. Falei basicamente, porque o filme é mais. Imagina em 1926 um homem, casado há seis anos, pintor de certa fama, começar a ter sérios conflitos internos sobre sua real sexualidade? Einar Wegener (Redmayne) e sua jovem esposa Gerda (Alicia Vikander), ambos pintores, são na verdade verdadeiros cúmplices. Gerda percebe que seu marido apesar de viril em muitos momentos a observa de forma diferente, que a princípio, pode sugerir um desejo sexual, mas na verdade Einar observa os gestos do como ser mulher. Ele admira as curvas, os tornozelos, a força e o destemor de Gerda, a energia feminina e masculina que há nela. Ele sente-se preso num corpo que não é dele. Gerda ao perceber a mutabilidade do marido em gostar de usar suas roupas, pede-o para servir de modelo para um quadro que estava pintando de sua irmã, a cunhada ao vê-lo não o repudia, cria uma personagem chamada Lili. Até então o que parecia uma brincadeira e fonte de inspiração para suas pinturas, ganha força e Lili não aceita mais ir embora. assim, começa uma busca para o entendimento daquilo e a peregrinação por explicações médicas. Os diagnósticos são os mais horrorosos e dolorosos. Fala-se em insanidade, perversão, esquizofrenia... penso em quantos diagnósticos errados foram dados a uma série de doenças naquela época por desconhecimento. Até a homossexualidade foi diagnosticada, mas não era o caso. Einar/Lili é mulher no corpo de homem. É a sua prisão e quer libertar-se... O filme tem cenas belíssimas tais como as que o leva ir ao teatro só para ver os figurinos das bailarinas; quando passa a mão delicadamente sobre um tecido; e a cena das quais achei mais marcante é a de quando vai para a zona do meretrício e paga só para ver uma mulher se sensualizando com seu gestual e ele a imita. Mesmo com todo sofrimento Gerda está sempre ao seu lado, inclusive quando, por intermédio dela mesma, ambos vão ao encontro de um médico para fazer a tão sonhada mudança de sexo. Daí pra frente é só indo assistir a belíssima atuação de Redmayne e de Alicia Vikander.

Nas entrelinhas, ao meu ver, o filme mostra o poder do feminino. Einar admira as mulheres, seu corpo, seus gestos, suas sutilezas, seu ventre, a capacidade de gerar... Ele quer ser mãe, gerar um filho (há poder maior). Mesmo com as frustradas tentativas do casal em engravidar, acredito eu, ele não pensava em ser pai, mas mãe. Einar quer casar com um homem, ter família, ser mulher... Isso aparece muito bem quando Gerda o pergunta, ele já como Lili depois de sua primeira cirurgia se não quer voltar a pintar e ele responde que primeiro quer ser mulher. O filme é uma grande mostra do amor que há entre os dois. E da dolorosa busca por poder libertar o seu verdadeiro sexo.

O tema é delicado e de traz um importante debate para a questão dos Trangêneros. Eles existem, merecem respeito e compreensão. Que venham mais filmes como esse!









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