Quando vi já estava consumado. Um gavião havia abatido um pardal e estava no galho do meu cajá a depenar cuidadosamente a presa. O gavião era lindo, imponente, suas garras eram gigantescas, suas penas de cor marrom lustrosas, seu bico adunco ofereciam a imagem perfeita do Predador. Ao me deparar com a cena tive um pouco de medo, mas a atração e beleza do momento me capturavam. Aquilo era a verdadeira execução da cadeia alimentar: predador e presa, juntos ali aos meus olhos. Pensei que os predadores fossem logo comendo a sua presa depois de abatidas, não. Eles a preparam primeiro. Pelo menos o gavião foi depenando meticulosamente o peito do pardal, para depois dar a bicada inaugural. Ao perceber que estava sendo observado, foi embora, devorar seu banquete num lugar mais privado. Em quais momentos somos presa ou predador? Quando abatemos e somos abatidos será que nos expomos? Comeremos ou seremos comidos em locais privados, longe dos olhos inquisidores? Há de se pensar... ...